Há muito tempo existia um povoado hoje apagado da história do mundo, um lugar tranqüilo onde os habitantes passavam seus dias lentamente, e o tempo corria de forma diferente, onde as pessoas eram puras, simples e viviam em harmonia com a natureza, devotando suas vidas a ela.
Este vilarejo era cercado por uma vasta floresta e banhado por um grande lago de águas cristalinas. Foi lá onde Raquel a viu pela primeira vez, ainda muito jovem, e se encantou no mesmo instante. A Lua, com sua beleza e elegante charme, parecia transmitir paz a todos sem nunca julgar e trazia sempre uma suavidade que Raquel jamais presenciara, sua luz ao afugentar a escuridão da noite sempre tão corajosa parecia fazer todo seu corpo se aquecer.
Passaram-se vários anos até Raquel perceber que aquele sentimento, que a levava todas as noites a margem do grande lago apenas para observar a Lua, se banhar em sua luz, lhe contar todas as suas coisas não era apenas admiração, mas sim um grande amor, a Lua sempre a ouvia e quando tudo parecia sem solução, ali ela encontrava a paz de que precisava para tomar as decisões corretas, a Lua sempre estivera ali, todas as vezes que precisara bela, compreensiva, encantadora e irresistivelmente charmosa.
Na noite em que Raquel, por fim, percebeu a profundidade de seus sentimentos, muito mais fortes que uma admiração ou que qualquer encanto que tenha sentido antes, ela os confessou e declarou-se para a Lua, falou tudo o que seu coração guardava há tantos anos, e desejou com todas as suas forças poder tocá-la ao menos por uma noite.
Então, em um momento de razão lembrou-se onde sua amada estava, tão alto no céu, sentiu-se triste, incapaz. Como poderia ela, apesar de todo seu amor, sendo apenas uma jovem, incapaz e minúscula, chamar a atenção de sua amada sempre tão majestosa? jamais seria capaz de fazer com que a Lua também a amasse e imaginou o quanto sua aparência frágil e delicada deveria parecer insignificante para à Lua sempre tão magnífica. Uma tristeza profunda a abateu e ela não podendo evitar as lágrimas que a dominaram chorou caindo ao chão por um amor tão grande mas sem esperanças.
A Lua ao ouvir a declaração que a tanto esperava se emocionou, mal pode se conter em sua alegria. Há muitos séculos que ela havia se distanciado das pessoas e fugido dos sentimentos, mas quando sentiu o olhar encantador daquela jovem menina pela primeira vez e viu sues cabelos cacheados brilhantes como ouro algo mudou, por algum motivo ela lembrou-se de todos os sentimentos bons e sentiu seu coração até então frio e distante se aquecer.
Todas as noites desde então ela observou sua menina a distância, aqueceu-a com sua luz nas noites escuras e brilhou ainda mais poderosa na esperança de conquistar sua atenção.
Por causa de Raquel ela havia brilhado como nunca em séculos havia brilhado, se esforçando para estar a cada dia mais linda e charmosa, e agora ouvindo as palavras que ecoavam da boca de sua amada criança ela sabia que era correspondida.
Ao ver Raquel, caída ao chão com lágrimas manchando sua pele clara e sujando suas faces rosadas, com os olhos sempre verdes e límpidos cheios de uma tristeza indescritível a Lua soube que precisava encontrá-la e lhe dizer o quanto a amava.
Ela sabia que era proibida de fazê-lo, pois ao fugir e se isolar dos sentimentos havia sido amaldiçoada a permanecer nos céus por todos os séculos, distante de todos, apenas observando.
Porem havia uma forma, ela precisava de uma distração algo que lhe permitiria assumir novamente sua forma humana por algum tempo e descer a terra por algumas horas sem ser notada.
Com a imaginação dando pulos, e desesperada para ver sua amada ela pensou em uma idéia insana e magistral, um grande golpe, mas que certamente poderia funcionar.
Gritou então aos seus melhores amigos, seus companheiros através dos séculos, o Sol e a Terra e contando a eles emocionada o que se passava, e o pesar que via nos olhos de sua amada menina pediu a eles que a ajudassem.
Quando contou seu plano para distrair os céus e assim poder descer as margens do grande lago para falar com sua amada a Terra e o Sol se assombraram com tamanha ousadia da Lua.
Todos sabiam o quão arriscado seria realizar seu pedido. Mas pensando, o Sol, eterno amante, sempre ardente de paixão incendiou-se. Era a primeira vez que via sua sempre fria e distante irmã tão apaixonada e decidiu atender seu pedido. A Terra por sua vez sempre compreensiva, piedosa, não suportou ver o desespero da Lua e a tristeza de Raquel e por fim também aceitou ajudá-las.
O plano era simples, o Sol deveria lançar sua luz sobre a Terra de forma que a sombra desta encobriria a Lua por algum tempo e assim ela poderia, novamente, adotar sua forma de mulher descendo a terra por algumas horas.
Esta foi a primeira vez que a Lua desceu do Céu, e foi a primeira vez que viu-se um Eclipse Lunar.
Esta foi a primeira vez que a Lua desceu do Céu, e foi a primeira vez que viu-se um Eclipse Lunar.
Já as margens do grande lago a Lua aproximou-se de Raquel, ainda de joelhos e em prantos. Com seus longos cabelos negros lisos e pele clara, ajoelhou-se ao lado de sua menina adorada e segurando seu rosto frágil e delicado fitou-a com seus olhos negros.
(CONTINUA)
(CONTINUA)