Camila estava cansada, não podia mais com o peso de suas máscaras, todos esperavam que ela sempre sorrisse, estivesse bem e agisse como se soubesse aonde ir, mas tudo o que ela sentia era dor, seu mundo desmoronava a cada instante, nada estava no lugar, e ninguém parecia perceber, ou se importar.
Já não lhe era possível olhar para todas aquelas pessoas que a rodeavam com rostos falsos fingindo compreensão, amor e lealdade há tanto tempo que não sabiam mais distinguir suas mentiras distorcidas dos sentimentos reais.
Agora se tornara impossível para ela se encaixar novamente, vestir sua mascara de garota perfeita, com muitos amigos, um bom emprego, uma vida feliz e continuar fingindo que tudo estava bem enquanto passava seus dias como um fantasma que mal sabe quem realmente é.
Ali em pé na cobertura do prédio onde morava a idéia que há tempos a perseguia simplesmente voltou, mas forte que nunca, bastaria que ela se inclina-se alguns centímetros sobre a mureta de proteção a sua frente e tudo estaria acabado.
Não sabia o que aconteceria após sua morte, na verdade sequer se importava, só não suportava mais sentir tanta dor, não queria mais fingir, ou ouvir mentiras, naquele momento sequer entendia porque tantas vezes antes seu corpo parecera se recusar a inclinar-se aqueles poucos centímetros e insistia em voltar a levantar todas as manhas e vestir a velha mascara odiosa.
Nessa noite isso iria acabar já não podia mais lutar contra aquele instinto que a trazia todas as noite até aquele parapeito e a instigava a dar apenas mais um passo.
Fechou os olhos, deu o passo que faltava e imaginou o abismo negro que logo a envolveria engolir toda aquela dor e toda aquela magoa que a cercava.
Nesse instante sentiu que alguém a segurava com força e a puxava, jogando-a contra o chão frio do terraço.
_ Ei!! Sai de cima de mim! Me larga!
A garota se levantou e segurando Camila com mãos firmes apertou seus braços enquanto a olhava fixamente.
_ Calma! Se acalma Camila já sai de cima de você, mas preciso que você se acalme, respire, certo¿ como você esta¿ se machucou¿¿
Camila estava atordoada, confusa, não sabia de onde saíra àquela garota de olhos castanhos profundos, e quem a autorizara a se intrometer justo na noite em que por fim sua dor seria destruída!
_Quem você pensa que é¿ o que esta fazendo aqui¿ não lhe dei permissão pra me tocar! Me solta!! – e tentando se desvencilhar dos braços da outra começou a se debater.
A outra não recuou, puxando Camila para mais perto a abraçou, prendendo-a entre seus braços e falou baixinho:
_Calma Camila, sei que você não esta bem, percebi isso há muito tempo, mas as coisas vão se acertar é só você se acalmar.
Sentindo o aconchego dos abraços da desconhecida e ouvindo sua voz tão tranqüila Camila começou a chorar, chorava por que estava com a alma machucada, com raiva, assustada e envergonhada, evitara o conforto das lagrimas a tanto tempo que havia esquecido o reconforto que elas são capazes de proporcionar.
Após algum tempo ela se acalmou, as lágrimas foram cessando e ela se lembrou que não conhecia a garota que acabara de salvar sua vida.
Levantou o rosto claro, ainda inchado, envergonhado, os olhos naturalmente verdes vermelhos, os perfeitos cachos loiros totalmente desgrenhados, e encarou a desconhecida, seus olhos eram de um castanho escuro e seu cabelo quase do mesmo tom, curtos.
_ Quem é você¿
_ Ainda não me apresentei não é¿ _ela deixou escapar um riso tímido, e Camila percebeu que era dona de uma beleza diferente, tranqüila_ meu nome é Samanta, mas pode me chamar de Sam.
_ Você é algum tipo de anjo¿
Sam sorriu, e falou:
_ Não, eu não sou um anjo, sou apenas uma garota que mora no andar de baixo e que enquanto fumava escondida te viu noite após noite vir a este lugar, e que não poderia deixá-la desistir mesmo vendo tanta dor em seus olhos.
Camila lembrou então que uma ou duas vezes havia cruzado com Sam no elevador, mas nunca havia realmente reparado nela, tão absorta em seu mundo e em seus problemas como sempre fazia.
_ Então você estava me espionando¿
_ Não, como falei, apenas estava procurando um lugar pra fumar, e você sempre pareceu tão preocupada que nunca quis perturbar seus pensamentos.
Camila encarou Sam e sentiu suas faces enrubescerem, abraçou-a novamente e encostou o rosto em seu ombro.
_ Obrigada por ter resolvido perturbá-los hoje.